Início Natureza Pecuária sustentável: uma alternativa para um meio ambiente sadio

Pecuária sustentável: uma alternativa para um meio ambiente sadio

2523
0
COMPARTILHAR
Sábado, 18 de outubro de 2008 Descrição: Boiadeiros conduzindo uma "comitiva" de gado no pantanal mato-grossense

Sábado, 18 de outubro de 2008  Descrição: Boiadeiros conduzindo uma "comitiva" de gado no pantanal mato-grossense

Há quem diga que a pecuária nunca será sustentável. Para o WWF é possível produzir com pouco impacto sobre o meio ambiente e manter a rentabilidade para o pecuarista

Com 21 milhões de cabeças de gado, o rebanho do Mato Grosso do Sul corresponde a aproximadamente 10% dos bovinos do país, e é o estado que abriga a maior criação de pecuária sustentável, localizada basicamente no Pantanal. A mudança de uma cultura pecuarista, cujas práticas agrediam o sensível ecossistema, para uma produção responsável está sendo possível graças ao trabalho que vem sendo realizado, desde 2004, pelo WWF-Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), a Embrapa-Pantanal e o Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável (GTPS).

“Trabalhar com esta commodity e tentar combater seus impactos ao meio ambiente é fundamental, uma vez que a pecuária ocupa aproximadamente 20% do território brasileiro”, afirmou Edegar Rosa, coordenador do Programa de Agricultura e Meio ambiente do WWF-Brasil. “Como nossa missão é conservar a biodiversidade e alcançar o equilíbrio entre o homem e a natureza, a pecuária baseada em boas práticas sustentáveis é uma alternativa importante para a conservação do Pantanal, um bioma rico em pastagens nativas,”, complementou.

O século XXI viu o rebanho bovino brasileiro tornar-se o segundo maior do planeta (atrás da Índia) e o país assumir a liderança como maior exportador de carne do mundo. O consumo interno também aumentou e hoje está em torno de 38 quilos per capita.
De acordo com dados oficiais da FAO a América do Sul é uma das regiões com maior produção de carne, especialmente, no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Equador e Bolívia, que juntos representam mais de 30% da produção global de carne.
Segundo Rosa “estamos diante de um desafio sem precedentes. Até 2050, a demanda global da população por alimento aumentará 70% em relação ao ano 2000. Essa expansão deve se dar, principalmente, por intensificação sustentável de produção agropecuária, pois da mesma maneira há também uma crescente busca dos consumidores por alimentos de qualidade e livres de resíduos agroquímicos, que sejam produzidos em respeito à natureza”.

Após dez anos trabalhando com a cadeia da carne, o WWF-Brasil parece colher bons resultados, conservando assim os 86% do Pantanal ainda existentes. Ivens Domingos, especialista em pecuária sustentável da organização brasileira, contou que outros países da América Latina também têm tido êxito na implementação das boas práticas de produção bovina. “Por isso é importante uma articulação conjunta”, ressaltou.

Motivado por isso o WWF-Brasil apoiou a realização do workshop de “Revisão e finalização da proposta de uma iniciativa para pecuária responsável na América do Sul”, nos dias 23 a 26 de agosto. O evento aconteceu na Pousada Aguapé, uma das fazendas percussoras no desenvolvimento de um sistema produtivo ambientalmente correto na região do Mato Grosso do Sul.

O objetivo do encontro era reunir representantes da Argentina, Colômbia, Bolívia, do Uruguai, Paraguai e dos Estados Unidos para conhecer mais afundo as iniciativas responsáveis adotadas por cada país e compreender de que forma eles podem interagir, por meio de um grande programa que possa incubar todas estas ações regionais, respeitando suas especificidades.

Do outro lado da fronteira

“Alguns mais cedo outros mais tarde, mas o fato é que todos os países presentes no evento já apostam na pecuária sustentável como uma alternativa de garantir a segurança alimentar aliada à conservação da natureza”, disse Domingos.

Nas experiências compartilhadas pelos países, as fazendas seguem rígidos princípios e critérios de produção, que permitem a criação de gado ser o mais natural possível, em convívio com a flora e a fauna regional, utilizando de modo racional os recursos naturais e com cumprimento das leis ambiental e trabalhista.

Nestes casos, a proteção das nascentes, a proibição tanto do uso de fogo no manejo de pastagens e da aplicação de químicos na alimentação são procedimentos obrigatórios. Além do bem-estar animal que precisa ser observado.

Estas práticas já estão bastante disseminadas no Paraguai, onde já ocorre em mais de oito fazendas. Mas de acordo com Angel Brusquetti Rolón, gerente de desenvolvimento sustentável da Wildlife Conservation Society (WCS-Paraguai), “ainda há muitos desafios a superar, dentre eles, buscar apoio para que a atividade ganhe escala, o que é uma tarefa difícil”.

Na Bolívia, Victor Hugo Magallanes disse que, o contexto político mudou bastante nos últimos anos, com a ascensão de uma liderança indígena à presidência, conquistando melhorias significativas, principalmente, em questões sociais. O coordenador do projeto no WWF-Bolívia ressaltou, no entanto, que “falta ainda reforçar o componente ambiental”.

Durante o evento os participantes confirmaram que na introdução de boas práticas, as fazendas apresentam resultados bem avançados na redução de mortalidade do gado, no aumento da natalidade, na maturidade mais precoce das vacas e nos lucros. Porém, uma necessidade destacada pelos representantes da Bolívia, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Argentina, é a de ampliar o leque de parcerias dentro e fora do Pantanal.

Com base nos bons resultados, os próximos passos definidos pelo grupo são sair das experiências-piloto e crescer em escala, estabelecer parcerias internas e externas, finalizar o planejamento e consolidar um programa regional de pecuária sustentável para a América do Sul.

Exemplo de pecuária sustentável

Nascido no Pantanal, Seu João que é de família pecuarista, disse que já viu a beleza do Pantanal ser substituída por pastos, o que para ele é muito triste. “Eu sempre me preocupei em valorizar a cultura e a tradição pantaneira e a melhor forma de conseguir isso é garantir que a pecuária, principal fonte de renda aqui, seja implementada de forma equilibrada com a natureza”, contou.

A Fazenda São José, onde está também funciona a Pousada Aguapé, braço turístico da propriedade, está localizada a 190 km da capital do Mato Grosso do Sul, no município de Aquidauana. Tem aproximadamente 3 mil hectares e conta com mais de 2 mil cabeças de gado. Após dez anos de parceria com o WWF-Brasil, o pecuarista que também é diretor da ABPO, já tem volume de carne sustentável suficiente para abastecer o mercado estadual.

Orleans Costa
Comunicação